6.05.2008

M a d n e s s




Já alguem sentiu a loucura vestir de repente o nosso corpo?

Já.

E tomar a forma dos objectos?

Sim.

E acender relâmpagos no pensamento?

Também.

E às vezes parecer ser o fim?

Exactamente.

Como o cavalo do soneto de Ângelo de Lima?

Tal e qual.

E depois mostrar-nos o que há-de vir muito melhor do que está?

E dar-nos a cheirar uma cor

que nos faz seguir viagem sem paragem nem resignação?

E sentirmo-nos empurrados pelos rins

na aula de descer abismos e fazer dos abismos

descidas de recreio e covas de encher novidade?

E de uns fazer gigantes e de outros alienados?

E fazer frente ao impossível atrevidamente e ganhar-Ihe,

e ganhar-Ihe a ponto do impossível ficar possível?

E quando tudo parece perfeito poder-se ir ainda mais além?

E isto de desencantar vidas aos que julgam que a vida é só uma?

E isto de haver sempre ainda mais uma maneira pra tudo?


Tu Só, loucura,

és capaz de transformar o mundo

tantas vezes quantas sejam as necessárias para olhos individuais

Só tu és capaz de fazer que tenham razão

tantas razões que hão-de viver juntas.

Tudo, excepto tu, é rotina peganhenta.

Só tu tens asas para dar

a quem tas vier buscar






José de Almada Negreiros













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